Monday 18 July 2016

Muitos meses depois - Trail

Depois de 8 meses sem provas e com ritmo de treino intermitente mas sempre em Monsanto com os Esquilos, fiz duas provas de seguida.



A primeira foi o Trail da Louza, 17km, com o André. Foi o primeiro trail, não fazia a mínima ideia ao que ia, pensava que ia ser como os treinos das 6 da manhã, em que se corre sempre ou quase sempre. Pois aqui primeiro não ia sozinho, depois estava muita gente no trilho e as subidas não têm nada a ver com as de Monsanto. Fui bastante mais devagar do que iria sozinho mas quase nunca me custou, excepto no fim quando estava a ficar atrasado para a viagem.



Subidas e descidas de assustar, inclinações de 30% (medidas a olho), pedra solta, ribeiras e abastecimentos saborosos com nutela e batata frita.





Passadas duas ou três semanas, foi a vez de voltar ao berço. Sou de Lisboa e do mar e do Guincho, mas metade vem da serra e é aí que tenho o meu nome nas pedras do cemitério. De novo o André desafiou-me e eu fui. Só chegar lá já foi complicado, mas a M. deixou-me no Porto e o Pedro Nuno levou-me. Pusemos a conversa em dia até Tendais e fomos directos para o Solar do Montemuro. Na entrada encontrei o Kiko Martins a beber uma imperial e a ver a vista ou a pensar na vida ou a sossegar, pois ia fazer os 70km. Dois dedos e conversa e fui ter com o Tio Carlos e o André. Soube mesmo bem estar ali a jantar com eles, ainda por cima a comer bem. Sinto-me querido ali e a reatar os tempos de criança em que passámos Natais e férias de verão no calor.



Fomos para casa, atirei para o chão a tralha que achei que ia precisar no domingo, o André deu-me umas dicas, pus o despertador e fui dormir por cima do saco-cama.



Acordei antes das sete, vesti-me e já estava quente. Lá fora o dia já estava adiantado, o que metia medo. O plano era começar a andar para habituar o joelho e não me matar nos 11km a subir do principio, sabendo que não tenho stamina para 38km nem perto disso. E devagar eu fui, mesmo devagar. Andando e correndo uns poucos cheguei fino, quase às 10h da manhã, ao S. Pedro. Levava grande parte do desnível feito e o joelho e perna estavam a portar-se bem. Tudo calmo, tudo sereno.



E encontrei o Kiko, ou melhor, a Maria, a mulher dele à espera dele no abastecimento. E arranquei com ele e o companheiro dele. E comecei-me a divertir. Sempre a correr, descer subir descer trepar sempre a abrir. Eu com medo dos tombos e do ritmo, de ir depressa demais para mim ou para eles, mas principalmente a tentar imaginar onde ia acabar o gás. Mas depressa de mais acabou a piada, ao fim de poucos km as provas voltaram a bifurcar. Disse adeus e segui por um caminho de juntas e eles por um lameiro. O meu ritmo baixou e desanimei. Pensei que se dane e voltei para trás o mais depressa que pude, a pensar que talvez nem os apanhasse porque eles iam perto do meu limite, mas encontrei-os depressa e expliquei-me "Vou junto até onde der". Não disseram grande coisa, não sei o que pensaram, se é que pensaram e continuámos. Numa subida grande por um ribeiro seco em direcção às Portas andámos bastante, o Kiko ia mal da barriga e o Zé? falava de um medicamento para as articulações. Ainda esperei uns pedaços por eles numas subidas. Depois o Kiko melhorou e voltámos a correr bem.

Chegámos às eólicas no lado da serra que dá para Castro Daire, mais a Sul e andar por essa encosta sul com a Seera da Estrela ao longe foi a parte épica da prova. Estava-me a a aguentar bem ao ritmo, a subir e a descer, mas sempre a queimar. Encontrámos uns quantos dos 70 e fomos juntos do abastecimento para baixo mas separá-mo-nos depressa, acho que nós íamos mais depressa. E continuei, passámos postos já nas aldeias até que chegámos a Quinhão onde encontrei o André!



E mesmo sem saber eu já estava perto do fim. Levava uns 30km em cima, 11 a subir devagar e 20 completamente over my head. Umas subidas à frente senti-me a fraquejar mas aguentei. Junto do Bestança apareceu uma subida curta mas muito forte a ligar do caminho à levada e senti um castigo enorme por todo o corpo. Depois veio uma subida em que andámos todos mas eu só queria andar devagar, devagar, cada passo era uma ordem. A expectativa era nula, não ia conseguir acompanhar. Disse adeus e agradeci, deram-me uma experiência enorme. Continuei a andar à procura de uma sombra e soube mesmo bem. Passado poucos minutos encostaram mais dois dos 70km, descansaram e fomos até ao posto de Soutelo. Ainda comi e arranquei mas foram 5km fáceis, cheio de planos, descidas e sombra, que fiz a lamber as últimas gotas do depósito, andar, correr, andar, suspirar.



Cheguei ao antepenultimo posto e parei o Garmin. Tinha os 38km no bucho, tinha rebentado, tinha andado por onde não devia e como não devia e soube muito bem! Ir até Cinfães em arrasto não me dizia nada, desta vez. Esperei uma hora por boleia e fui com os bombeiros que me deixaram directo à porta de casa.